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Meia-entrada em shows, cinemas e teatros na berlinda

novembro 3, 2008

Por Deise Santos

O Senado Federal está discutindo um projeto que é, no mínimo, incoerente. Depois da classe estudantil lutar e conquistar o direito à meia-entrada em cinemas, teatros e casas de espetáculos, o Senado Federal resolveu limitar esse direito aos dias de semana. Isso significa um retrocesso ou algo como andar na contramão da democracia e do acesso à cultura em todas as suas  vertentes.
Claro que não é novidade que muitas pessoas fazem o uso indevido deste direito, falsificando carteiras e boletos de universidades para usarem esse benefício, mas os produtores e administradores de teatros e casas de espetáculos, principalmente, também já arrumaram um jeito de não levarem prejuízo e estão cobrando valores astronômicos para, com o valor da meia-entrada, pagarem os custos e faturar (bem) com a produção do evento ou espetáculo.
A limitação do uso da carteira aos dias de semana – nos cinemas de segunda à sexta e nos teatros e casas de espetáculos de segunda à quarta – é um disparate. Qual estudante, precisando trabalhar para custear seus estudos e manter sua família, terá tempo para ir ao cinema, teatro ou shows nos dias de semana? E quais casas de espetáculos colocarão atrações de segunda a quarta, atrações essas que muitas vezes vêm de outras cidade, estados e até países, para que os estudantes possam vê-las se beneficiando do direito à meia-entrada?
Em sendo aprovada, as casas de espetáculos reduzirão os preços dos ingressos? Porque a única justificativa para termos shows por mais de R$30 (valor da entrada inteira) ultimamente, é que a maioria das pessoas pagavam o valor da meia-entrada.
Padronizar o documento de identidade com uma Carteira de Identificação Estudantil (CIE), que seria válida em todo território nacional é aceitável, mas quanto tempo isso irá demorar para ser implantado? A emissão dessa carteira gerará custos para o estudante? Quando essa CIE for implantada os estudantes poderão voltar a freqüentar os espaços culturais com direito ao benefício de meia-entrada nos finais de semana?
E porque estudantes de especialização, cursos técnicos e de línguas não terão direito à meia-entrada? Reconhecendo-se apenas como estudantes as pessoas matriculadas no ensino regular: primeiro grau, ensino médio e universidades (graduação).
Essa proposta descabida está para ser votada na Comissão de Educação, Cultura e Esporte (CE) do Senado Federal (sem data definida) e, se aprovada, irá ser discutida na Câmara dos Deputados.
Esse projeto é um um ato de violência silenciosa contra os estudantes. Limitar o acesso à cultura é impedir que o cidadão se alimente de referências culturais e expressões artísticas.
Claro que temos outras formas de artes como a literatura e os centros culturais gratuitos, entre outros, mas andar para trás excluindo pessoas do processo cultural é inaceitável.
Entre neste link e deixe sua opinião sobre esse projeto de lei.

CRUST: as origens

outubro 16, 2008

O CRUST é talvez um dos estilos musicais mais suburbano que existe, consegue ser o underground do underground. Até mesmo mais seletivo que o grindcore. Uma subcultura ou contracultura praticamente desconhecida fora da cultura punk, metal, HC ou do meio dos squatters.
A sua origem é remota e pouco definida. Inicialmente rotulada como stenchcore (instinct of survival) rapidamente adotou-se o termo crustcore ou pura e simplesmente CRUST. O termo que surge através da banda DEVIATED INSTINCT que editou a demo “Terminal Filth Stenchcore” mesmo antes de chegarmos ao meio da década de 80. Quanto ao termo “crust” surgiu pela demo-tape dos Hellbastard intitulada “Ripper crust”. Outra banda que é considerada os pais do crust punk são os AMEBIX, seu álbum ‘Arise’ é considerado um dos primeiros álbuns a definir este estilo sujo e corrosivo.
O CRUST é musicalmente influenciado pelo metal como Motörhead e pelos primórdios do black-metal (Venom, Hellhammer e Celtic Frost, músicas como “Into the crypt of rays” são autênticas referências de crust quer em nível de afinações e riffs de guitarra, quer em nível de batida e tempos de bateria), mistura influências de grindcore (Repulsion – primeira banda de grindcore, surgiu em 1980, voltaram à ativa em 2005) e obviamente do punk (Discharge). Sempre foi mais semelhante ao extremismo do grindcore, mas diminuto nas estruturas tecnicistas musicais do metal.
Estilo musical muito peculiar e único, tendo várias variantes. Podendo ir do CRUST rápido e furioso (Disrupt) ao lento melódico com toques de melancolia (Wolfpack).
Os termos crust (Doom), crustcore (Uncurbed), d-beat (Meanwhile), crustpunk (Anti-cimex) servem para definir esse tipo de vertentes musicais, consoante a influência mais metal (S.D.S.) ou mais punk (dischange) que os músicos querem dar à sua expressão musical. Explorando inclusive vertentes mais sludge como fazem os CounterBlast, Zygote, Grief, Dystopia ou Eyehategod.

A vertente D-beat (Disaster) designa uma batida na bateria a meio tempo. O nome deriva da banda britância Discharge, que definiu esse estilo. Há a opinião de que o nome D-beat vem das bandas de punk que começavam com ‘Dis’ para homenagear os Discharge como: Disfear, Disclose, Disgust, Disarm, Disbeer, Disrupt, Diskonto, etc. Inclusive seguiam o estilo até nas capas dos álbuns, com fotos de guerra em preto e branco.
Sendo a versão mais extrema do punk, o contexto das letras do CRUST não podiam deixar de ser nihilistas, tudo é referido no que seja sobre o lado podre, negro e hipócrita da humanidade. O CRUST será sempre anti-racista e anti-militarista.
Tópicos como destruição nuclear, direitos dos animais, igualdade, squats, religião, apocalipse, poluição massiva, guerra, meio ambiente são muito usados para exteriorizar toda a raiva na vocalização agressiva e suja do gênero.
Aos olhos da sociedade, a cena crust punk em nível mundial, generalizando, é conhecida pelo seu extremismo político, a vida nos squats, em edifícios abandonados e a resistência em procurar empregos pode ser equiparada ao que Murray Bookchin chamou de “estilo de vida anarquista “!
A faceta mais infame da personagem que vive o estilo de vida do crust é talvez o lado da higiene, havendo comunidades em que se recusam a tomar banho (ou tomar o mínimo de vezes possível) e no caso das mulheres que não rapam qualquer zona do corpo onde cresçam pêlos. Isto pelo simples fato de não quererem colaborar com as indústrias cosméticas (que 99% praticam experimentação animal) e também por assim conseguirem ter um tipo de vida livre de toxinas e químicas usadas na higiene pessoal. Assim como também se trata de viver ao contrário das normas sociais e de se ter um estilo de vida diferente aos hábitos aos quais a maior parte das pessoas estão acostumadas.
Praticam majoritariamente o modo de vida vegetariano ou vegan indo de encontro à sua obstinada preocupação ambiental.
Os/as crusters consideram-se ateístas e são inspirados pelo ideal ‘no gods, no masters’ referem-se à total descrença em qualquer Deus ou entidades divinas. Há no entanto crusters que adotam a postura espiritual pagã no sentido de ausência de credibilidade de um profeta e pela sua ligação à natureza, ambiente do planeta terra chegando a aproximarem-se a uma forma de pensar semelhante a dos índios nativos norte-americanos.
Pela mesma razão ambiental e gosto de contato com a natureza é freqüente encontrar em quase todas as comunidades o uso regular das bicicletas, quer como meio de transporte, quer por desporto e lazer. Tornando-se uma imagem de “marca” do meio, representa uma alternativa ao consumismo, à liberdade individual e uma “rebeldia” contra o meio citadino onde imperam os carros e a conseqüente e sufocante falta de espaços de lazer em prol das suas poluentes viaturas.

No início os fãs de crust (crusties) e ao contrário dos punks, não usavam cores nos seus spikes, todos vestidos de preto, roupas rasgadas e cheias de patches impressos por serigrafia. Desenhos brancos sob fundo preto é o mais comum.
A postura ética das bandas crustpunk defende a prática da ação DIY (do it yourself) criando desta forma uma rede própria de gravação/distribuição/produção/divulgação, onde o correio, internet, concertos ou qualquer outro tipo de reuniões/encontros sejam os únicos meios possíveis de chegar ao material produzido em reduzidas quantidades. Sejam as roupas, os discos, os zines, tudo numa edição limitada e praticamente disponível temporariamente e restringida localmente! Excluindo algumas edições que têm uma distribuição maior e mais alargada onde, pelos seus meios, conseguem chegar a mais gente.
O meio de troca é vulgarmente utilizado como “moeda” alimentando o espírito e a atitude alternativa DIY, conseguindo assim manter-se em paralelo ao “mainstream” comercial da indústria vulgar da sociedade.
O movimento CRUST, tal qual o de grindcore, não é elitista, sendo motivador da livre expressão pessoal. Qualquer um é livre de agir, vestir, ouvir, pensar e expressar como bem entender. Apesar de se encontrar os “fiéis” seguidores ao espírito do movimento, ninguém é discriminado por ouvir este ou aquele tipo de música, vestir chinelo ou bermuda, ler BD ou ter o cabelo rapado ou comprido com tranças freaks. A idéia do crust é também defensora do ideal da mentalidade aberta (open mind) e horizontes alargados.
Musical ou filosoficamente assimila e deixa-se influenciar um pouco por todas as vertentes existentes no underground, mas conseguindo manter-se fiel às suas raízes sócio-políticas. Tornando-se numa cultura mais rica seguindo um caminho que nunca se esgota e que constantemente se renova.
Este texto tem o intuito de dar a conhecer, enriquecer a tua cultura musical e divulgar o estilo de som e o seu modo de vida (pra alguns). Pesquise o nome das bandas, ouça as músicas, leia as letras (quando possível hehehe) e cultiva-te !!!!
Aconselho vivamente a ouvir as raízes, as demos de Deviated Instinct, Amebix, Antisect e Hellbastard.

Hugo Rebelo*

Para conhecer mais:

Alemanha:
Accion Mutante, Cluster Bomb Unit, Immured, Instint of Survival, Mönster.

Bélgica:
Hiatus.

Brasil:
Disköntröll, Acid Rain, Olho Seco, Kuolema, Under the Ruins, Death From Above, Desastre, Ulster, Contraste Bizarro, Securitate, Social Chaos, Disarm, Scum Noise, Gritos de Alerta.

Canadá:
Inepsy, After the Bombs, Kontempt, Twisted System.

Eslováquia:
Beton, Dead is Sexy.

Eslovênia:
Hell Patrol, Anaeroba.

Espanha:
Ekkaia, Besthoven, Holocaust in your Head, Totälickers, Black Panda, No Conform, Ö.B.N.I., Disease, Unsane Crisis.

Estados Unidos:
Final Conflict, Misery, Sanctum, Code13, Tragedy, Detestation, One Nation Under God, Hellshock, Holokaust, Deathtoll, Disrupt, From Ashes Rise, Stormcrow, State of Fear, Wartorn, Destroy, Severed Head of State, World Burns to Death, Genocide SS, Aus Rotten.

Finlândia:
Riistetyt, Força Macabra, Kuolema, Selfish.

Grécia:
Anasa staxti, Valpourgia nixta, Omixli(crust-oi), Xeimeria narki, Ksexasmeni profiteia, Xaotiko telos, Xaotiki apeili, Sigxisi, Xamena idanika (crust-grind), Apoxetefsi.

Holanda:
Visions of War, Sangre.

Inglaterra:
Doom, Extreme Noise Terror, Disgust, Disarm, Extinction of Mankind, Amebix, Antisect, Discharge, Deviated Instinct, Bait, Nausea, Raw Noise, Hellbastard, Concrete Sox, Meinhof.

Itália:
Giuda, Berserk.

Japão:
S.D.S., Beyond Description, From Beyond, Church of Misery (sludge crust BRUTALLL !!!), Battle of Disarm, Unholy Grave, Gauze, Lipcream, Confuse, C.F.D.L., DON DON, Bastard, Abraham Cross, Disclose, Burial.

México:
Phobia, Life Extinction, Disturbio.

Noruega:
Summon the Crows, Ingen Utvei.

Peru:
Dios Hastio.

Polônia:
Trocki, Infekcja, Mind Pollution.

Portugal:
Subcaos, Simbiose, 100 Talento, Sem Cura, Deskarga Etilika, Freedoom, Spitzbuben, Reltih, Porcos Sujos.

República Tcheca:
Guided Cradle

Singapura:
Distrust, Minus, General Enemy.

Suécia:
Wolfbrigade, skitsystem, Driller Killer, Anti Cimex, Disfear, Massmord, Bombstrike, Avskum, Victims, Meanwhile, Uncurbed, Diskonto, Auktion (crust’n’roll banda 90% formada por raparigas), No Secutity, Disarm, Shitbreed, Counterblast.

Suíça:
Fear of God

Venezuela:
Los Dollares

* Hugo Rebelo é um dos vocalistas da banda de crustcore portuguesa Simbiose.